Por: Gabriella Tomaz

Ana Carolina Rosignoli (esq.) e Ana Paula Gonçalves (dir) são proprietárias do Brechó Desapeguei Bonito, em Brasília (DF)

Quando se viu grávida e sem emprego, Ana Carolina Rosignoli notou em seu armário uma oportunidade de ganhar dinheiro. O que ela não imaginava era que ali começava uma grande jornada de empreendedorismo, amizade e comunidade.

O DB (Brechó Desapeguei Bonito) começou em 2014, quando aos 22 anos, Ana Carolina resolveu criar uma conta no Instagram para vender algumas roupas que tinha no armário e não usava mais. Essa ação gerou uma reação, e em pouco tempo, ela já estava vendendo as roupas das amigas; e logo, das amigas das amigas. “No ritmo dele, o brechó foi tomando corpo e eu fui sentindo que tinha um retorno e vi que tinha uma oportunidade, eu queria trabalhar com ela”, conta Carol Rosignoli.

Até 2016, o DB só existia na rede social, mas isso mudou em 2017, quando Carol reencontrou a amiga Thais Tibery e contou sobre seus planos de expansão. Thais decidiu embarcar na jornada como sócia e juntas elas abriram a primeira loja do brechó. Um espaço pequeno – “um quadradinho”, como chama Carolina –, e onde puderam conhecer pessoalmente as compradoras e fornecedoras, que saiam do Instagram e iam até o “quadradinho” para comprar e conhecer melhor as duas.

Na época, não tinham noção de que estavam construindo um vínculo importante com suas consumidoras/seguidoras. Começava ali uma forte comunidade, que acompanha o brechó até hoje e mantém esse contato. “A gente tinha essa comunicação próxima, mas ao mesmo tempo sem nenhum encontro físico, e o quadradinho, apesar de ser muito pequeno, acabou proporcionando isso pra gente e o DB foi crescendo junto”, explica Ana Carolina.

Cresceu tanto que Carol e Thais precisaram alugar um espaço maior para comportar tanto as novas peças quanto a sua rede presente e unida. E foi nesse momento que a terceira sócia, Ana Paula Gonçalves, entrou na história. Ela não entrou de cara na sociedade: primeiro, se candidatou para uma vaga de estoquista, mas durante a entrevista, Carol viu que seria mais proveitoso que ficasse na parte de vendas.

E foi graças a essa comunidade nas redes sociais que a Ana Paula chegou até o DB. A empreendedora conta que já acompanhava as meninas pelas mídias sociais e que gostava muito do que acontecia ali, pois era um conteúdo muito verdadeiro e próximo do público. O momento de vida de Ana Paula e Carol também as aproximou. “Eu tinha acabado de voltar de uma missão voluntária no Peru e não tinha muita certeza do futuro. Foi quando vi a vaga e resolvi arriscar”, conta Ana Paula Gonçalves.

Desde então, foram abertas três lojas e houveram muitos erros e acertos, mas o que não se pode negar é que Ana Carolina, Ana Paula e Thais construíram muito mais que uma loja: criaram uma comunidade que consome, apoia e acompanha e impulsiona o empreendimento. Para além das vendas, o DB proporciona oportunidades e ainda colabora para gerar menos riscos ambientais, com venda de produtos novos e de segunda mão, gerando menos impacto para o planeta.

As sócias em frente do Desapeguei Bonito

Em meio às incertezas o coletivo se fortaleceu
Em 2020, as empresárias decidiram se mudar para um lugar ainda maior que o anterior, mas não contavam que naquele fatídico ano o mundo inteiro seria atingido por uma pandemia, que fez com que as pessoas não pudessem sair de casa. Na transição entre as lojas e após alguns meses de obra, decidiram voltar trabalhar sem atendimento ao público e dedicadas à produção de conteúdo para o e-commerce. Ana Paula explica que naquele momento viu a força que o brechó tinha.

“Com a loja fechada e só o site ativo, foi quando a ‘magia’ aconteceu e vi que ali era muito mais do que um emprego. Não tinha distinção de hierarquia, todo mundo queria voltar e queria que aquilo desse certo, e vi ali uma força e uma união”, lembra Paula Gonçalves.

Nesse mesmo ano, Ana Paula foi convidada para virar sócia e aceitou o convite. Mesmo com a situação complicada e com incertezas, as sócias viram ali uma oportunidade de se impulsionarem.

Oportunidade de acesso e menos impacto para o meio ambiente
No começo, Ana Carolina confessa que não tinha em mente essa questão de economia verde, ou seja, preocupação com a pegada ambiental e social da empresa. Quando fundou o DB, buscava um negócio com retorno financeiro rápido. Depois, foi percebendo que tinha nas mãos produtos que, de certa forma, tinham um custo elevado no mercado, mas que no DB podiam ser repassados por um valor mais acessível; e aos poucos, foram percebendo o seu potencial e o seu papel socioambiental.

“A gente começou a olhar para a questão de sustentabilidade e que ela estava muito próxima do que a gente fazia de uns dois anos para cá. Só pelo fato do DB existir já faz um ciclo mais sustentável. Mas a gente só percebeu isso quando começou a adotar um viés de mais responsabilidade com aquilo que consumimos na nossa própria vida. Foi aí que a gente percebeu que tinha esse papel também”, explica Ana Carolina Rosignoli.

Ser mulher empreendedora
É um consenso: ambas afirmam que não é fácil empreender, mas que o tempo “caleja” e fortalece. “Passamos por muitas situações que claramente um homem jamais passaria. Às vezes, até para contratar serviços era difícil e a gente tinha que meio que nos provar para as pessoas. Hoje em dia, eu acho que ser mulher empreendedora é uma benção”, pondera Ana Carolina.

Ana Paula e Ana Carolina acreditam que os desafios fazem os empreendedores se moverem e buscarem soluções para o negócio dar certo

Ana Paula Gonçalves diz que, em certo momento, se sentiu uma impostora e não se via como empreendedora, pois tinha a crença de que este era um posto masculino. “No início, acho que eu nunca assumi pra mim mesma que eu era empreendedora. Até hoje, é um pouco difícil me ver nesse papel, porque eu me coloquei numa posição na qual só os homens empreendem”.

A sua “chave” só foi virar quando se mudaram para a loja atual e tudo tomou uma proporção maior. Viu a mudança que ela mesma fez acontecer. A força das sócias também a fez se sentir capaz de realizar tudo aquilo.

Erros que ensinam
Nem tudo são flores no mundo dos negócios e com as empreendedoras não foi diferente. Entretanto, ao serem questionadas se teriam mudado alguma escolha na jornada, ambas concordam que não alterariam nada. “Tudo aconteceu da maneira que tinha que ser, porque se tivesse feito algo diferente, talvez nem tivesse passado pelas coisas boas”, afirma Carolina e Ana Paula consente.

Para as empresárias, tudo o que aconteceu, serviu para que elas tivessem uma nova visão sobre o negócio. “É sobre fazer pensando no médio e longo prazo. É pensar em como podemos fazer para deixar todo o processo redondinho para que ele funcione bem assim”, acrescenta Carolina.

Ana Paula acredita que ao terem se arriscado indo para um lugar maior, em plena pandemia, acabou as motivando e impulsionando a achar possibilidades de fazer o empreendimento funcionar. “Saltamos para uma loja muito maior e não conseguimos ver o que poderia acontecer. Mas quando a gente está nesse lugar ‘meio que de aperto’, faz a máquina girar para encontrar soluções. Mas se fosse hoje, por exemplo, a gente pensaria três vezes antes de fazer”, finaliza Ana Paula.

Apenas faça
Para finalizar, ao serem questionadas sobre dicas ou conselhos para dar às empreendedoras que estão começando ou àquelas mulheres que estão pensando em empreender, e Carolina Rosignoli dispara: “não tem como fugir do clichê ‘apenas faça’! E aconselha: “depois que começar, estude, pois vai chegar um momento em que vai precisar de recursos educacionais para poder seguir adiante; e quanto mais preparada você for, melhor vai conseguir passar pelos obstáculos e ao mesmo tempo, vai saber onde pode buscar soluções e apoios”

O brechó Desapeguei Bonito fica localizado em Brasília, na 702/703 norte e funciona de segunda a sábado. Você também pode encontrá-lo no @desapegueibonito nas redes sociais.

Fotos: Gabriella Tomaz
Edição: Fernanda Peregrino

FONTE: Varejo S.A